domingo, 20 de abril de 2008

Entrevista com FHC

É muito interessante perceber as reações de alguém que está acostumado a ser acariciado pela imprensa nacional.

Mesmo ele sendo sociólogo, ex-diplomata e ex-presidente, não desenvolveu a mínima capacidade de formular duas frases coerentes entre si. Falta-lhe o hábito de se defrontar com o pensamento crítico e a contestação em entrevistas, que, aqui, em terra pátria, são muito fraquinhas.

Note como o entrevistador, Stephen Sackur, vai brincando como um gato atrás de um ratinho fragilizado. É curioso ver como ele foi mal acostumado pelas generosas perguntas dos repórteres da imprensa brasileira; ele vai ficando cada vez mais constrangido diante de alguém que não se inibe de perseguir as contradições e a inconsistência de seu discurso demagógico. Chega um momento em que lemos no rosto dele: "Onde fui me enfiar! A que horas isso acaba! Estou com saudades da Eliane Catanhede!"

Se há algum mérito por parte do entrevistado, é apenas o fato de estar lá presente. Ou foi corajoso, ou nunca tinha ouvido falar no estilo do programa...


Parte 1


Parte 2
http://br.youtube.com/watch?v=o0t2i5mv1cs&feature=related

sábado, 19 de abril de 2008

Os monstros e o linchamento

A instituição da família é hipócrita. A monogamia não é sustentável, vide as estatísticas, que mostram que, em 70% das relações, existe adultério. Na maioria das vezes, filhos são conseqüência de relações sexuais sem contraceptivos e não de um projeto vida. E mesmo quando são programados, os casais têm filhos para dar satisfação aos pais e à sociedade. Mas, mesmo assim, os idiotas, em seus programas de televisão, continuam repetindo que "mulher nasceu pra ser mãe", "sou homem da casa", "família é tudo", e toda sorte de imbecilidade.

Quando o absurdo que são as relações familiares acaba em tragédia, em vez de refletir sobre o fracasso dessa instuição, atiram pedras no bode, que hoje é o Alexandre Nardoni. É mais fácil acreditar que existam indivíduos monstros do que assumir que criamos um monstro social chamado família.

Somente a hipocrisia, liderada pela corja que se apoderou do jornalismo, faz esse casal estar sujeito a um linchamento. Enquanto não assumirem publicamente a falência das relações matrimoniais no nosso modelo de civilização, os apedrejamentos públicos serão uma boa maneira de o cidadão mediano continuar sem consciência a respeito do lixo que é a sua vida.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Show da imprensa na morte de Isabella

Show da imprensa na morte de Isabella


Por Hamilton Octavio de Souza
16-Abr-2008

A morte da menina Isabella, por si só um acontecimento chocante e dramático do ponto de vista pessoal e familiar, acabou se transformando num grande espetáculo para as emissoras de rádio e TV, os jornais e as revistas, que passaram a dedicar exagerado espaço para uma cobertura jornalística de conteúdos e objetivos questionáveis e duvidosos.

Não é de hoje que a chamada grande imprensa empresarial - os principais veículos de comunicação de alcance nacional - exploram de forma sensacionalista crimes bárbaros e situações que são transformadas em escândalos com uma dimensão desproporcional em relação a outros fatos e acontecimentos mais relevantes para a sociedade.

A inversão de critérios é evidente: os fatos não são analisados por sua relevância social e pelo impacto de racionalidade que possam ter para o desenvolvimento da sociedade; são tratados apenas pela possibilidade da exploração emocional e passional, de maneira que provoquem o máximo de choque e nenhuma reflexão coletiva mais aprofundada.

No caso da morte da menina Isabella, aparentemente uma fatalidade (como tantos outros casos isolados que ocorrem diariamente pelo Brasil afora), a cobertura da mídia - na busca de audiência e de aumento de vendagem nas bancas - tratou como se fosse uma novela, com capítulos diários recheados de detalhes irrelevantes e paralelos, mas dosados - com a ajuda da Polícia, do Ministério Público e do Judiciário - de suspense suficiente para manter o telespectador (leitor e ouvinte) aprisionado no enredo da história.

Apenas para destacar esse tratamento diferenciado, no mesmo dia da morte da menina, 150 soldados da tropa de elite da Polícia Militar do Rio de Janeiro invadiram uma favela e assassinaram 10 pessoas. Não foi a primeira vez, nos últimos meses, que a PM do Rio cometeu tamanha barbárie contra uma comunidade pobre. No entanto, a grande imprensa nacional deu apenas um pequeno registro desse crime violento praticado pelos agentes do Estado.

Do ponto de vista da relevância social, o crime do Rio atenta contra toda a sociedade, pois representa uma violação bárbara de direitos. No entanto, o tratamento dado para esse genocídio carioca é o da banalização total do crime, é o do rebaixamento do valor das vidas humanas porque os mortos estão localizados na escala mais baixa das condições de vida no País.

Do ponto de vista do espetáculo e da comercialização dos fatos, o caso da menina Isabella "permite" muito mais exploração inconseqüente do que as 10 mortes do Rio de Janeiro. No caso da Isabella, a mídia dissecou todos os detalhes possíveis, entrevistou dezenas de pessoas, desde parentes até colegas e professores. No caso do crime do Rio, o assunto morreu no mesmo dia e o povo brasileiro nada ficou sabendo sobre as vítimas, quem eram, quais as suas histórias, o que faziam, quem são os seus parentes e porque foram assassinadas.

Em momentos como esse é que se verifica que o jornalismo brasileiro sofre de grave distorção nos seus critérios de seleção dos assuntos, na escolha do destaque dado aos fatos e na linha dos enfoques. Mais importante do que transformar atos anti-sociais (crimes) em shows de emoção, é analisar a realidade – política, econômica e social - que gera a violência e leva o ser humano ao ato anti-social.

O papel mais nobre da imprensa é o de fornecer para a sociedade o material jornalístico que contribua efetivamente para elevar o nível de informação, de consciência e de compreensão da nossa realidade.

Originalmente publicado no jornal Brasil de Fato – http://www.brasildefato.com.br/

Hamilton Octavio de Souza é jornalista e professor da PUC-SP.